Metamorfose

“Não convém ficarmos parados em meio as tempestades, ainda que surta poucos efeitos vale a pena agir, porque existe algo a nossa espera depois que tudo se acalmar. Mas estar em um local melhor no fim é tão honroso quanto o desejo de caminhar”

Metamorfose

Em uma noite sofri uma transformação, que sim sem dúvida podemos chamar de Metamorfose, posso falar que dormi uma pessoa e acordei outra, com novos pensamentos, idéias e metas, não que as antigas fossem insignificantes, mas as atuais eram mais valorosas a ponto de levar-me a encarar algumas mudanças no meu ser.

No carnaval desse ano resolvi ir a uma ilha, acompanhado de minha tia sai na Sexta e pretendia voltar na quarta, mas acabei voltando na segunda. Por algum motivo na noite de domingo quando me deitei não me senti bem, não falo fisicamente, mas era algo no interior, algo que me incomodava e eu não sabia ao certo dizer o que e menos ainda o porque. Desejei ir ao mar, mas já era tarde e resolvi refletir sobre o que eu estava sentindo. Acabei notando que essa viajem seria mais que um lazer e sim uma terapia, tinha a certeza que sairia dali mais com lições do que com lembranças e durante minha reflexão acontecia uma certa transformação de idéias ao qual eu não esperava contudo cedia aquela realidade.

No dia seguinte acordei com um ar de mudanças em todos os sentidos de minha vida, posso falar que acordei outra pessoa, acordei feliz, sem medos, confiante que tudo ia dar certo, enfim com pensamentos mais que positivos. Há verdade é que os lugares podem até mudar as pessoas mas não sana os nossos problemas, é aquela idéia de teatro em que muda-se o cenário mas o enredo é o mesmo, os problemas estão ali e você será a mesma pessoa em qualquer lugar do mundo.

Eu estava naquele local me esforçando pra me divertir e passar o tempo, mas era sabido que eu andava cheio de problemas, quando inesperadamente eu desejei voltar pra casa decide que não ia mais ficar ali. O primeiro desafio era despedir de meus tios, pois não queria fazer certa desfeita, mas não foi uma tarefa tão difícil porque eu sempre tentei atender os gostos do meu coração, não iria mais ficar ali sem vontade e foi o que fiz.

Após despedir-me deles cheguei ao cais e peguei um barco médio, aparentava ter seus oito metros, era pintado com duas cores branco e azul que o caracterizava a alguns metros de distâncias, na proa lia-se MARÉ DE PRATA que identificava o barco. Em meio à brisa que sem muito esforço era sentida, pude afirmar que aquele estava sendo o momento mais importante da minha viajem e confessando eu estava mais feliz com a partida do que com a chegada.

Sentia-me demasiadamente bem naquele barco, e ao ligar dos motores senti o meu coração vibrar, eu queria mesmo era chegar a casa, entretanto aproveitei a imensidão do mar pra relembrar do que havia deixado naquela ilha, e o que me chamou atenção era que eu olhava apenas pra frente embora a beleza daquele lugar fosse tão significativa pra mim, não me recordo de ter olhado para trás.

Ainda analisando eu observava como as ondas se encontravam uma com a outra em um sentido harmônico e continuo parecendo até que elas estavam a se abraçar, e a medida que o barco avançava os raios solares alcançava novas áreas criando uma certa luminosidade, não tão intensa mas certamente nobre o que me dava a idéia de estar mesmo em uma MARÉ DE PRATA .

Pra descrever eu estava vestindo uma camiseta verde e um shorte preto simbolizando a esperança e o luto, luto de ter deixado alguém ou um ser para trás, pessoa essa que precisava acreditar mais em si mesma e não apenas pensar mas agir em busca de suas metas e idéias. Diante disso tive a certeza de que eu havia mudado e pra melhor, e em meio a tantas pessoas que não acreditavam no meu potencial eu já me sentia um vencedor.

Após trinta minutos a viajem encerrou-se, sai do ou da MARÉ DE PRATA com mais vigor do que quando havia entrado e fui em direção a minha casa, porem antes passei por uma ponte, foi o primeiro lugar em terra firme que pisei após aquela nostalgia. Pra combinar com a camisa dei o nome de Ponte da Esperança, pois simbolizava o final daquela metamorfose. A ponte era razoavelmente grande, devia ter seus vinte metros. Ao lado esquerdo avistei um muro que separava duas praias, em uma placa no muro lia-se “Entrada proibida, Propriedade da União, MARINHA DO BRASIL” e ao lado direito havia inúmeros banhistas curtindo o feriadão naquela bela praia. Continuei minha caminhada sabendo que de agora em diante aquela ponte ia valer algo pra min, pois ficou a esperança de não mais voltar á ser o que se era, ficou a esperança de que tudo realmente ia dar certo e nada mais ia me parar após aquele dia.

Depois de pegar o coletivo e andar um pouco com muita apreensão cheguei a casa, recordei-me que não tinha a chave da porta e temi não haver ninguém pra que eu pudesse entrar, mas quando olhei pelos vidros embaçados da janela avistei minha tia olhando-me e indo abrir a porta. Quero enfatizar que não fui recebido normalmente, o semblante dela era de imensa felicidade e resolvi perguntar:

-Estava me esperando?

Ela respondeu convicta demonstrando sinceridade:

-Eu sabia que você viria hoje!

Não posso negar que fiquei perplexo e mais ainda pensativo, francamente eu sempre acreditei na idéia de que existe certa ligação entre algumas pessoas, encarei isso tudo como um sinal de que nada realmente é por acaso.

Ao entrar em casa dei por consumada a minha metamorfose, esse foi um dia impar em minha vida, em que tudo mudou, e por entre as mudanças sentia-me sim uma nova pessoa capaz de buscar o que sempre quis ser: um vencedor. De fato eu segui meu coração e poderia ter renegado tais desejos que me veio subitamente naquela ilha, mas eu bem sei que precisava por algumas coisas no lugar e sempre acreditei que nada muda enquanto nós não mudarmos.

Em suma o mundo nos concebe inúmeras oportunidades para alcançarmos novos horizontes e para se chegar a um local melhor haverá sempre sacrifícios. Assim como minha tia me esperava os nossos objetivos também nos espera e a vontade de caminhar tem que ser suficientemente grande para desprezar as barreiras e empecilhos postos em nossas jornadas, então será sempre válido viver acreditando em um lindo resultado, pois de certo existe uma recompensa após uma árdua caminhada.

“Quanta miséria e desatino temos de passar para chegar a casa! E não temos ninguém que nos guie, a não ser o nosso desejo de chegar.” Herman Hesse

1 comentários:

Lindo texto! Motivador. Lembrou-me a bela música de Raul Seixas: Metamorfose Ambulante.